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BRANCO CHUMBO

 

 

Branco Chumbo fala-nos sobre efemeridade, remete-nos para o campo do interdito sem perder a leveza e deixando-nos em silêncio.

Os gregos compreendiam de forma magistral a efemeridade, aliás foram eles os inventores da palavra. Nas tragédias quando os deuses se referiam aos homens referenciavam-nos como “os efémeros”. É a nossa brevidade no tempo que dá sentido à beleza. A beleza é a profunda aspiração da vida e, segundo George Bataille, o que nos parece digno de ser amado, é sempre o que nos transtorna, o inesperado, o inesperável.

 

Nesta exposição deparamo-nos com um vídeo com a duração de 5.30”, durante este espaço temporal o espectador assiste ao desaparecimento parcial de uma caixa de chumbo que submerge na parafina. Esta peça condensa em si o tempo, a transfiguração, o invisível, o visível, a rememoração. Surge um desenho entre o que mergulha na sombra e o que emerge na luz. Nasce, assim, uma silhueta de chumbo no branco da parafina.

É possível traçar um paradoxo entre esta peça que ecoa no espaço e o artista que cria através de um mergulho que tem tanto de temerário como de fecundo. O artista mergulha nas suas próprias águas e resgata algo da escuridão que traz à luz do dia. A obra é a existência do ser humano, é o que habita na sua verdade e a linguagem é a sua casa. A linguagem permite a construção da perceção do mundo ao mesmo tempo que permite a construção do homem em si. Tal como no vídeo, a superfície que nos é visível é também o que nos permite re-ligar ao invisível.

 

Na obra de Teresa Carepo a linguagem é a transfiguração do engenho na matéria que compõe uma malha tão complexa quanto subtil de associações e significados.

A parafina, o vidro, a madeira, o cimento, o chumbo, o ferro e o tecido são os materiais eleitos nesta exposição que ditam também a paleta de cores que define o campo de ação. No trabalho da artista a escolha dos materiais é feita segundo as linhas determinantes da conceção da obra, onde a plasticidade e as características das matérias são determinantes. As coisas são o que aparentam ser, os materiais pesam o peso real, as peças estão em tensão e o efémero pode ser realmente destruído. É uma evidência partilhável a observação de gestos que nos são familiares: mergulhar, dobrar, atar, derreter, verter, moldar, suspender, equilibrar.

 

Branco Chumbo é uma exposição repleta de corporalidade, pelos gestos, pela invocação do corpo no espaço. Forças que emanam da mão e se inscrevem na matéria. É o gesto inscrito, o corpo presente. É trazer à luz o vazio deixado pelo corpo. A revelação de uma memória interior, de uma memória ancestral que nos põe em relação com o universo do ritual. O ritual é a criação de uma realidade sensível, uma ficção que nos permite aceder à origem, à essência do humano. Branco Chumbo convoca-nos à elevação, está para lá da superfície, além do corpo físico da escultura.

 

Cláudia Ramos

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